
Categoria: Artigos
Data: 02/10/2023
Por Pr. Vitor Paulo
Por este motivo, aqueles que procuram apenas por comandos explícitos quanto a este Sacramento, por limitarem a sua teologia apenas ao Novo Testamento, logo concluirão que o batismo infantil (ou pedobatismo) não é bíblico e, portanto, não é uma prática genuinamente cristã.
É certo que o círculo dos defensores do pedobatismo é muito restrito dentro do espectro cristão evangélico. Ele se resume quase que na sua totalidade ao ramo do Protestantismo que conhecemos como “Igrejas Protestantes Históricas”, que nada mais são do que as denominações cristãs protestantes que nasceram ainda nos primeiros dois séculos em que o movimento de Reforma ocorreu e se desenvolveu (séc. XVI e XVII). Nós presbiterianos, portanto, nos enquadramos nesta categoria de defensores do batismo de infantes.
Mas a quê tanto nós, presbiterianos, quanto outros irmãos de igrejas protestantes, como também de outros ramos do cristianismo histórico que praticam o pedobatismo, como por exemplo os católicos e os ortodoxos, costumam apelar para defendê-lo? A resposta é muito simples: circuncisão! Boa parte de nós fomos ensinados a responder que o batismo “substitui a circuncisão”, ou que o batismo é a “nova circuncisão”, ou que a circuncisão foi
“cumprida no batismo”. Isso pode ser encontrado tanto em textos de Cipriano, de Agostinho, na Confissão Belga, no Catecismo de Heidelberg, nos documentos Confessionais de Westminster e muito mais.
Como um pedobatista, eu concordo que há semelhanças entre a circuncisão e o batismo, mas esta argumentação que é tão comum é muito simplista. A força real da circuncisão é que ela mostra que Deus não se opõe a impor rituais a bebês e crianças pequenas. Esse é um ponto importante, mas se Deus quis que o batismo fosse aplicado às crianças, isso ocorre por uma razão totalmente diferente.
Quando os que se opõem ao batismo infantil buscam refutá-lo, eles o fazem apontando diferenças entre a circuncisão e o batismo, tais como: (1) a circuncisão era apenas para o povo da antiga nação de Israel que vivia sob a Antiga Aliança, e (2) a circuncisão era apenas para os homens israelitas, não para as mulheres israelitas. Claro que existem nuances da circuncisão que são aplicadas ao batismo infantil, mas estas duas razões apresentadas por aqueles que o condenam, baseiam os credobatistas na sua refutação da circuncisão como base do batismo infantil.
Mas precisamos entender que a prova suficiente do batismo infantil é a ocorrência do batismo no próprio período do Antigo Testamento. E se encontrássemos este Sacramento ocorrendo na Antiga Aliança, a ponto dele incluir crianças, deveríamos esperar, portanto, que esta inclusão servisse de base para que a prática continuasse na Nova Aliança e assim não precisássemos de uma ordem expressa no Novo Testamento para batizar as crianças. filhos. O batismo infantil aplicado na Nova Aliança seria a expectativa e a conclusão do padrão apresentado na Antiga Aliança. E por isso, o Novo Testamento na verdade teria que ter um texto proibindo explicitamente este Sacramento.
Para começar, muitos cristãos fragilmente assumem que o batismo é exclusivo do Novo Testamento, como se tivesse sido iniciado por João Batista
no 1º século. Mas os escritores apostólicos refutam essa suposição em suas próprias cartas. O Apóstolo Pedro diz que o dilúvio foi um “batismo” (βαπτισμα) para Noé e sua família (1ª de Pedro 3.20-21). Paulo também diz que os israelitas foram “batizados” (βαπτίζω) na travessia do Mar Vermelho (1ª carta de Paulo aos Coríntios 10.2). Hebreus 9.10 usa βαπτισμος para se referir às “abluções” ou lavagens cerimoniais da Antiga Aliança. Isso significa que o batismo já existia no Antigo Testamento. E é a partir deste ponto que a teologia do batismo deve partir. Dizer algo contrário a isto é interpretar as Escrituras de forma contrária aos Apóstolos.
A teologia bíblica do batismo começa ainda em Gênesis 1. No 2º dia Deus separando a água em duas, com águas acima e águas abaixo (Gn 1.6-8). Isso se tornará o principal paradigma simbólico do batismo. No dilúvio, Noé e sua família foram batizados com água do alto (a chuva). Já os ímpios foram submersos. No Mar Vermelho, os israelitas foram batizados com água do alto (Sl 77.16-20). Os ímpios egípcios foram submersos. A submersão representa a morte e o inferno, a aspersão e o derramamento representam a purificação que vem do Céu.
E vemos que as lavagens sacerdotais do sistema levítico seguiram o mesmo padrão. Em Números 8.6-7 exige explicitamente a “aspersão” para a ordenação dos levitas. Outras passagens usam a palavra para “lavar”, mas essas lavagens eram da pia de bronze na porta do tabernáculo (Êx 29.4, 30.18). Êxodo
38.8 nos diz que esta pia era feita de espelhos, portanto não era adequada para submergir adultos na água. O consenso histórico (tanto de judeus, quanto de cristãos) é que a água era retirada da pia e aplicada no recipiente.
Êxodo 30.20-21 diz que os sacerdotes deveriam lavar as mãos e os pés toda vez que entrassem e saíssem do Tabernáculo. Eles deveriam fazer isso com água “da” pia, indicando ainda que a água era retirada e aplicada de cima. As lavagens para a impureza eram realizadas de maneira semelhante.
Veja a maneira específica de Números 19.13: “Todo aquele que tocar em algum morto, cadáver de algum homem, e não se purificar... imundo será; está nele ainda a sua imundícia”. “Derramar” ou “aspersão” é encontrado em outros textos do Antigo Testamento lugares (Is 44.3; Ez 36.25). E visto que Hebreus 9 se refere a todos eles como “batismos”, devemos aceitar que a aspersão e o derramar são modos legítimos (e preferidos) de batismo.
Mas aí você pergunta: “O que isso tudo tem a ver com o batismo infantil?”. Primeiramente, fica claro que o batismo é anterior à circuncisão. O batismo de Noé (Gn 7) ocorreu muito antes da circuncisão de Abraão (Gn 17). Portanto, não é apropriado falar do batismo como uma “substituição” da circuncisão, já que o batismo já existia antes e andou ao lado da circuncisão por milhares de anos. Eram dois rituais distintos para propósitos distintos.
Diante disso, seria mais adequado dizer que na Nova Aliança a circuncisão simplesmente deixou de existir. A circuncisão foi cumprida na crucificação de Cristo, assim como todos os outros rituais sangrentos da Antiga Aliança. Em contraste, o batismo continua porque é anterior à lei e remonta à própria criação.
Em segunda instância, vemos que o batismo infantil foi aprovado por Deus já no Antigo Testamento. O batismo no Mar Vermelho incluía crianças. Era para todo o povo da aliança de Deus e não apenas para os adultos do sexo masculino. Incluía crianças israelitas, mesmo aquelas muito jovens para entender o que estava acontecendo. Da mesma forma, as lavagens de impurezas incluíam crianças.
Números 19 é o melhor exemplo disso. Qualquer um entrasse na tenda de alguém que tivesse falecido, seria considerado impuro e seria necessário aspergir com água (Nm 19.14, 18). Nenhuma exceção é dada ali. Incluía qualquer pessoa, de qualquer idade, no leito de morte de seu ente querido. Além disso, se uma criança contraísse impureza de qualquer outra forma, os requisitos
para o batismo se aplicariam. O fato de a criança não ter consciência de sua impureza e sua incapacidade de confessar não impedia o batismo.
Essa informação muda radicalmente a nossa forma de abordar batismo no Novo Testamento. Em Mateus 3, o batismo surge do nada. É mencionado sem qualquer descrição de como deve ser realizado. Mas por qual motivo? Porque ele era um ritual muito comum e conhecido ao longo da história do povo de Israel. Os escritores esperavam que os leitores dos seus textos soubessem o que era o batismo. E isso também é requerido de nós. O batismo sempre foi um ritual de aspersão ou derramamento, e sempre incluía adultos e crianças. Não há indicação de que esses detalhes tenham mudado na Nova Aliança.
Os pais teriam trazido seus filhos para serem batizados por João. Eles desceram nas águas abaixo, mas foram batizados com as águas acima, recriando a imagem do 2º dia. Jesus foi batizado da mesma forma. No Pentecostes, o batismo do Espírito Santo foi um “derramamento” (At 1.5; 2.17). Pedro então ordenou o batismo nas águas e disse que a promessa era para “vós... vossos filhos e para todos os que ainda estão longe” (At 2.38-39). A mente judaica teria entendido isso como nada menos que o batismo infantil por aspersão ou derramamento.
Um dos grandes ataques dos credobatistas – ou seja, aqueles que concordam que o batismo deve ser feito baseado apenas na fé daquele que é batizado – aos pedobatistas – ou seja, aqueles que creem que o batismo deve ser aplicado ao que tem fé, mas também sobre os seus filhos – é o de que não encontramos verso algum no Novo Testamento que ordene ou registre o batismo infantil. E isso é um fato e sabemos que isto representa um problema para alguns cristãos.
Por este motivo, aqueles que procuram apenas por comandos explícitos quanto a este Sacramento, por limitarem a sua teologia apenas ao Novo Testamento, logo concluirão que o batismo infantil (ou pedobatismo) não é bíblico e, portanto, não é uma prática genuinamente cristã.
É certo que o círculo dos defensores do pedobatismo é muito restrito dentro do espectro cristão evangélico. Ele se resume quase que na sua totalidade ao ramo do Protestantismo que conhecemos como “Igrejas Protestantes Históricas”, que nada mais são do que as denominações cristãs protestantes que nasceram ainda nos primeiros dois séculos em que o movimento de Reforma ocorreu e se desenvolveu (séc. XVI e XVII). Nós presbiterianos, portanto, nos enquadramos nesta categoria de defensores do batismo de infantes.
Mas a quê tanto nós, presbiterianos, quanto outros irmãos de igrejas protestantes, como também de outros ramos do cristianismo histórico que praticam o pedobatismo, como por exemplo os católicos e os ortodoxos, costumam apelar para defendê-lo? A resposta é muito simples: circuncisão! Boa parte de nós fomos ensinados a responder que o batismo “substitui a circuncisão”, ou que o batismo é a “nova circuncisão”, ou que a circuncisão foi
“cumprida no batismo”. Isso pode ser encontrado tanto em textos de Cipriano, de Agostinho, na Confissão Belga, no Catecismo de Heidelberg, nos documentos Confessionais de Westminster e muito mais.
Como um pedobatista, eu concordo que há semelhanças entre a circuncisão e o batismo, mas esta argumentação que é tão comum é muito simplista. A força real da circuncisão é que ela mostra que Deus não se opõe a impor rituais a bebês e crianças pequenas. Esse é um ponto importante, mas se Deus quis que o batismo fosse aplicado às crianças, isso ocorre por uma razão totalmente diferente.
Quando os que se opõem ao batismo infantil buscam refutá-lo, eles o fazem apontando diferenças entre a circuncisão e o batismo, tais como: (1) a circuncisão era apenas para o povo da antiga nação de Israel que vivia sob a Antiga Aliança, e (2) a circuncisão era apenas para os homens israelitas, não para as mulheres israelitas. Claro que existem nuances da circuncisão que são aplicadas ao batismo infantil, mas estas duas razões apresentadas por aqueles que o condenam, baseiam os credobatistas na sua refutação da circuncisão como base do batismo infantil.
Mas precisamos entender que a prova suficiente do batismo infantil é a ocorrência do batismo no próprio período do Antigo Testamento. E se encontrássemos este Sacramento ocorrendo na Antiga Aliança, a ponto dele incluir crianças, deveríamos esperar, portanto, que esta inclusão servisse de base para que a prática continuasse na Nova Aliança e assim não precisássemos de uma ordem expressa no Novo Testamento para batizar as crianças. filhos. O batismo infantil aplicado na Nova Aliança seria a expectativa e a conclusão do padrão apresentado na Antiga Aliança. E por isso, o Novo Testamento na verdade teria que ter um texto proibindo explicitamente este Sacramento.
Para começar, muitos cristãos fragilmente assumem que o batismo é exclusivo do Novo Testamento, como se tivesse sido iniciado por João Batista
no 1º século. Mas os escritores apostólicos refutam essa suposição em suas próprias cartas. O Apóstolo Pedro diz que o dilúvio foi um “batismo” (βαπτισμα) para Noé e sua família (1ª de Pedro 3.20-21). Paulo também diz que os israelitas foram “batizados” (βαπτίζω) na travessia do Mar Vermelho (1ª carta de Paulo aos Coríntios 10.2). Hebreus 9.10 usa βαπτισμος para se referir às “abluções” ou lavagens cerimoniais da Antiga Aliança. Isso significa que o batismo já existia no Antigo Testamento. E é a partir deste ponto que a teologia do batismo deve partir. Dizer algo contrário a isto é interpretar as Escrituras de forma contrária aos Apóstolos.
A teologia bíblica do batismo começa ainda em Gênesis 1. No 2º dia Deus separando a água em duas, com águas acima e águas abaixo (Gn 1.6-8). Isso se tornará o principal paradigma simbólico do batismo. No dilúvio, Noé e sua família foram batizados com água do alto (a chuva). Já os ímpios foram submersos. No Mar Vermelho, os israelitas foram batizados com água do alto (Sl 77.16-20). Os ímpios egípcios foram submersos. A submersão representa a morte e o inferno, a aspersão e o derramamento representam a purificação que vem do Céu.
E vemos que as lavagens sacerdotais do sistema levítico seguiram o mesmo padrão. Em Números 8.6-7 exige explicitamente a “aspersão” para a ordenação dos levitas. Outras passagens usam a palavra para “lavar”, mas essas lavagens eram da pia de bronze na porta do tabernáculo (Êx 29.4, 30.18). Êxodo
38.8 nos diz que esta pia era feita de espelhos, portanto não era adequada para submergir adultos na água. O consenso histórico (tanto de judeus, quanto de cristãos) é que a água era retirada da pia e aplicada no recipiente.
Êxodo 30.20-21 diz que os sacerdotes deveriam lavar as mãos e os pés toda vez que entrassem e saíssem do Tabernáculo. Eles deveriam fazer isso com água “da” pia, indicando ainda que a água era retirada e aplicada de cima. As lavagens para a impureza eram realizadas de maneira semelhante.
Veja a maneira específica de Números 19.13: “Todo aquele que tocar em algum morto, cadáver de algum homem, e não se purificar... imundo será; está nele ainda a sua imundícia”. “Derramar” ou “aspersão” é encontrado em outros textos do Antigo Testamento lugares (Is 44.3; Ez 36.25). E visto que Hebreus 9 se refere a todos eles como “batismos”, devemos aceitar que a aspersão e o derramar são modos legítimos (e preferidos) de batismo.
Mas aí você pergunta: “O que isso tudo tem a ver com o batismo infantil?”. Primeiramente, fica claro que o batismo é anterior à circuncisão. O batismo de Noé (Gn 7) ocorreu muito antes da circuncisão de Abraão (Gn 17). Portanto, não é apropriado falar do batismo como uma “substituição” da circuncisão, já que o batismo já existia antes e andou ao lado da circuncisão por milhares de anos. Eram dois rituais distintos para propósitos distintos.
Diante disso, seria mais adequado dizer que na Nova Aliança a circuncisão simplesmente deixou de existir. A circuncisão foi cumprida na crucificação de Cristo, assim como todos os outros rituais sangrentos da Antiga Aliança. Em contraste, o batismo continua porque é anterior à lei e remonta à própria criação.
Em segunda instância, vemos que o batismo infantil foi aprovado por Deus já no Antigo Testamento. O batismo no Mar Vermelho incluía crianças. Era para todo o povo da aliança de Deus e não apenas para os adultos do sexo masculino. Incluía crianças israelitas, mesmo aquelas muito jovens para entender o que estava acontecendo. Da mesma forma, as lavagens de impurezas incluíam crianças.
Números 19 é o melhor exemplo disso. Qualquer um entrasse na tenda de alguém que tivesse falecido, seria considerado impuro e seria necessário aspergir com água (Nm 19.14, 18). Nenhuma exceção é dada ali. Incluía qualquer pessoa, de qualquer idade, no leito de morte de seu ente querido. Além disso, se uma criança contraísse impureza de qualquer outra forma, os requisitos
para o batismo se aplicariam. O fato de a criança não ter consciência de sua impureza e sua incapacidade de confessar não impedia o batismo.
Essa informação muda radicalmente a nossa forma de abordar batismo no Novo Testamento. Em Mateus 3, o batismo surge do nada. É mencionado sem qualquer descrição de como deve ser realizado. Mas por qual motivo? Porque ele era um ritual muito comum e conhecido ao longo da história do povo de Israel. Os escritores esperavam que os leitores dos seus textos soubessem o que era o batismo. E isso também é requerido de nós. O batismo sempre foi um ritual de aspersão ou derramamento, e sempre incluía adultos e crianças. Não há indicação de que esses detalhes tenham mudado na Nova Aliança.
Os pais teriam trazido seus filhos para serem batizados por João. Eles desceram nas águas abaixo, mas foram batizados com as águas acima, recriando a imagem do 2º dia. Jesus foi batizado da mesma forma. No Pentecostes, o batismo do Espírito Santo foi um “derramamento” (At 1.5; 2.17). Pedro então ordenou o batismo nas águas e disse que a promessa era para “vós... vossos filhos e para todos os que ainda estão longe” (At 2.38-39). A mente judaica teria entendido isso como nada menos que o batismo infantil por aspersão ou derramamento.
A circuncisão não é o argumento mais forte para a defesa do batismo infantil. Na maioria dos casos, é uma distração que leva a uma confusão desnecessária. A defesa mais eficaz do batismo infantil é o próprio batismo infantil. Deus ordenou isso na Antiga Aliança e continua na Nova Aliança.
Vitor Paulo Oliveira Neto
Pastor Segunda Igreja Presbiteriana Conservadora de São Paulo.